Por: Rui Miguel Trindade dos Santos
A psicanálise pode oferecer uma compreensão profunda sobre o padrão de uma pessoa que constantemente se envolve em relacionamentos considerados "errados". Esse fenômeno pode ser analisado a partir de diversos conceitos psicanalíticos, como transferência, mecanismos de defesa e a dinâmica inconsciente.
Um dos pontos centrais na psicanálise é que os relacionamentos românticos muitas vezes refletem padrões traçados em experiências da infância, especialmente nas relações com figuras parentais. A teoria freudiana sugere que as selecionar parceiras ou parceiros que repetem as características negativas de relacionamentos passados—tais como aqueles com pais ou cuidadores—pode ser uma forma de "repetição" inconsciente. Nesse contexto, a pessoa pode estar tentando resolver conflitos não resolvidos desde a infância, mesmo que isso a leve a relacionamentos que lhe causam sofrimento.
Além disso, a psicanálise observa que, muitas vezes, a atração por "pessoas erradas" pode servir como um mecanismo de defesa. Por exemplo, escolher parceiros que não são adequados pode permitir que a pessoa evite intimidade verdadeira e compromisso, protegendo-se de uma vulnerabilidade emocional. A ideia de se envolver com alguém que não valoriza ou que é desonesto pode oferecer uma justificativa inconsciente para evitar um relacionamento mais profundo e autêntico, por medo da rejeição ou da dor.
Outra perspectiva relevante é a das expectativas e fantasias românticas. Às vezes, uma pessoa pode ter uma visão idealizada do amor, esperando que um parceiro “problemático” possa ser "salvo" ou mudado. Essa fantasia pode levar à escolha de parceiros que perpetuam um ciclo decepção e frustração.
A psicanálise também considera o papel da autoestima. Indivíduos que lutam com questões de autoestima podem sentir que não merecem um amor saudável e, assim, acabam se envolvendo com pessoas que confirmam essa crença negativa sobre si mesmos.
Em resumo, a psicanálise propõe que a repetição de relacionamentos malsucedidos muitas vezes está ligada a questões inconscientes que remontam à infância e a padrões de comportamento que foram internalizados. Trabalhar esses padrões em terapia pode ajudar a pessoa a entender melhor suas motivações, resolvendo conflitos internos e permitindo escolhas mais saudáveis em suas relações futuras. O autoconhecimento e a exploração dessas dinâmicas emocionais são fundamentais para romper com ciclos prejudiciais e construir relacionamentos mais satisfatórios e equilibrados.
Rui Miguel Trindade dos Santos
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